domingo, 27 de novembro de 2016

Um encontro inesquecível


  O CORAÇÃO da floresta equatorial da República Centro-Africana esconde uma joia da fauna vista por poucas pessoas. Após uma viagem difícil de carro de 12 horas por trilhas acidentadas, chegamos ao Parque Nacional de Dzanga-Ndoki, uma reserva natural intacta no sudoeste do país, entre Camarões e a República do Congo. Nosso objetivo era conhecer um gorila-ocidental-das-terras-baixas chamado Makumba e sua família.

  Nossa guia, Bara, nos disse para ficar juntos e tomar cuidado com os elefantes, visto que passaríamos por trilhas usadas todo dia por eles em busca de alimento. Mas os elefantes não eram o único perigo. Bara disse: “Se um gorila avançar em sua direção, fiquem parados e olhem para o chão. Ele não vai machucá-los; apenas vai fazer muito barulho. Não olhem nos olhos dele. Eu, pessoalmente, prefiro fechar os olhos.”

 Nós e Bara fomos conduzidos por um rastreador experiente do povo BaAka, considerado um grupo pigmeu por causa de suas características físicas, como a baixa estatura. Para nosso rastreador, o menor indício visual, cheiro ou som era suficiente para detectar a presença dos animais mais sorrateiros da floresta. Cercados por enxames de abelhas irritantes, tentávamos acompanhar o passo do rastreador enquanto ele avançava mata adentro com facilidade.

  Logo nosso rastreador estava nos levando através da floresta virgem onde poucos ocidentais haviam pisado. De repente, ele parou e indicou com seus braços uma grande área perto de nosso caminho. Vimos ali arbustos e grama esmagados onde gorilas jovens haviam brincado, bem como galhos quebrados e sem folhas — sobras de um petisco. Nossa expectativa foi aumentando durante o percurso.

  Depois de uns três quilômetros, o rastreador diminuiu o passo. Para evitar assustar os gorilas, ele fez um estalo bem peculiar com a língua. Podíamos ouvir perto de nós grunhidos graves intercalados com o barulho de galhos quebrando. Bara sinalizou devagar para avançarmos. Com um dedo sobre a boca, indicou que deveríamos fazer silêncio absoluto. Ela pediu que ficássemos agachados e apontou para as árvores. A cerca de oito metros de distância, ali estava ele: o gorila Makumba!

  O silêncio havia substituído os barulhos da floresta, e a única coisa que conseguíamos ouvir era o nosso coração batendo. É claro que nossa preocupação era se Makumba nos atacaria. Ele olhou em nossa direção aparentemente sem fazer muito caso e nos recepcionou com um bocejo. Nem é preciso dizer que ficamos muito aliviados!

  Apesar de o nome Makumba significar “Veloz” na língua aca, o gorila Makumba estava parado, comendo sem pressa seu café da manhã durante todo o tempo que ficamos ali. Próximo de onde estávamos, dois gorilas jovens estavam brincando. Sopo, um filhote de 10 meses de olhos enormes, brincava perto de sua mãe, Mopambi, que o puxava de volta com carinho sempre que sua curiosidade insaciável o levava a tentar se afastar dela. O resto da família estava tirando folhas e talos de galhos ou se divertindo em grupos. Às vezes, eles olhavam para nós, mas logo perdiam o interesse e voltavam a brincar.

  Após uma hora, nosso tempo se esgotou. Parecia que Makumba também tinha percebido isso — depois de dar um grunhido, ele se ergueu com seus braços enormes e sumiu na floresta. Em poucos segundos, a família toda desapareceu. Embora o tempo que passamos com esses incríveis animais tivesse sido bem pouco, jamais nos esqueceremos desse encontro.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Os fios de bisso do mexilhão



 




  OS MEXILHÕES, assim como as cracas, grudam em pedras, pedaços de madeira e cascos de navios. Só que as cracas se fixam totalmente numa superfície. Já o mexilhão fica pendurado nas superfícies, preso por um tufo de pequenos filamentos chamados fios de bisso. Esse método permite que o mexilhão tenha certa mobilidade, o que facilita a alimentação e a migração. Como o bisso do mexilhão, que parece tão frágil, consegue resistir ao impacto das ondas do mar?

 Os fios de bisso são rígidos em uma ponta, mas moles e elásticos na outra. Pesquisadores descobriram que 80 por cento do bisso é composto de material duro e 20 por cento de material mole. Essa é a proporção exata para o mexilhão ficar bem preso a uma superfície. Com essa estrutura, o bisso consegue aguentar o constante vaivém das ondas. 

  O professor universitário Guy Genin analisou essas pesquisas sobre mexilhões e achou o resultado “fascinante”. Ele disse: “A mágica desse organismo está na estrutura inteligente [do bisso], que é ao mesmo tempo rígida e mole.” Os cientistas acreditam que a estrutura dos fios de bisso pode servir de inspiração para várias coisas. Por exemplo, pode ajudar em tecnologias para fixar equipamentos em prédios e em submarinos. Também pode ser usada para ligar tendões a ossos e para fechar cortes cirúrgicos. O professor Herbert Waite, da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, Estados Unidos, diz: “No que diz respeito a formas de aderência, a natureza possui uma coleção infindável de tesouros.”

O ciclo de vida da cigarra-periódica





  

  AS CIGARRAS são insetos parecidos com gafanhotos. Elas são encontradas em todos os continentes, menos na Antártida. Mas a cigarra-periódica aparece apenas na América do Norte e já faz tempo que ela atrai a atenção dos biólogos.

 Milhões de cigarras-periódicas aparecem de repente na primavera, apenas por algumas semanas. Na sua curta vida ao ar livre, elas perdem a pele, cantam bem alto, voam, se reproduzem e depois morrem. Uma coisa curiosa é que a próxima geração dessas cigarras só aparece 13 ou 17 anos depois, dependendo da espécie. O que acontece com elas durante todo esse tempo?

  Para responder, precisamos entender o fascinante ciclo de vida da cigarra-periódica. Cerca de uma semana depois de surgir, ela bota de 400 a 600 ovos dentro dos ramos das árvores. Ela morre logo em seguida. Depois de algumas semanas, as larvas saem dos ovos, caem na terra e passam a viver debaixo do chão. Nessa fase da vida, elas se alimentam dos nutrientes das raízes de arbustos ou de árvores por vários anos. Depois de 13 ou 17 anos, surge outra geração dessa cigarra, e um novo ciclo começa.

  De acordo com um artigo da revista Nature, o complexo ciclo de vida dessas cigarras “tem deixado os cientistas confusos por séculos. . . . Até hoje, os especialistas em insetos tentam entender como o incrível ciclo de vida da cigarra-periódica evoluiu”. Esse é um dos grandes mistérios da natureza.

O pescoço da formiga



Formiga carregando folhas na boca
  ENGENHEIROS MECÂNICOS ficam impressionados com a habilidade da formiga de levantar cargas muito mais pesadas do que ela mesma. Para entender como ela consegue fazer isso, engenheiros da Universidade do Estado de Ohio, EUA, criaram modelos em computador para estudar como funciona o pescoço da formiga, bem como sua anatomia e propriedades físicas. Eles criaram esses modelos usando imagens transversais de raios-X e simulações que medem a resistência do pescoço da formiga.

  O pescoço é uma parte importante da formiga, pois precisa suportar todo o peso da carga que ela carrega na boca. Ele contém tecidos moles que se ligam ao exoesqueleto do corpo e da cabeça como se fossem dedos entrelaçados. Um dos pesquisadores diz: “O formato e a estrutura dessa ligação são importantes porque mantêm mais forte a junção entre a cabeça e o corpo e ajudam o pescoço a suportar enormes cargas.” Os pesquisadores acham que entender bem como o pescoço da formiga funciona vai ajudar a projetar mecanismos robóticos mais eficientes.

As magníficas araras


Arara-canindé ou arara-de-barriga-amarela



  UM BANDO de aves levanta voo de repente no meio da floresta. Um espetáculo de cores vivas! Essa cena impressionou os exploradores europeus que chegaram às Américas Central e do Sul no fim dos anos 1400. O que eles viram eram araras, papagaios de cauda longa que habitam as regiões tropicais das Américas. Em pouco tempo, mapas da região continham gravuras dessas magníficas aves. Elas se tornaram símbolo do paraíso recém-descoberto.

  Tanto o macho como a fêmea têm cores vivas, o que não é comum entre as aves coloridas. As araras também são inteligentes e sociáveis. Seus gritos são altos e estridentes. De manhã cedo, elas saem voando em bandos de umas 30 aves para procurar sementes, frutas tropicais e outros alimentos. Assim como é típico dos papagaios, as araras geralmente seguram o alimento com as garras e comem com o bico grande e curvado. Elas conseguem quebrar até a casca dura de nozes. Depois de se alimentar, costumam voar em bandos para rochedos ou margens de rios para comer barro. Isso pode ajudar a neutralizar o efeito das toxinas dos alimentos e suprir os elementos químicos de que precisam.

  As araras normalmente ficam com o mesmo parceiro a vida toda. Tanto o macho como a fêmea cuidam dos filhotes. As várias espécies fazem ninhos em árvores ocas, em buracos em barrancos e cupinzeiros, ou em cavidades e fendas de rochedos. É comum vê-las alisando as penas umas das outras com o bico. Em seis meses os filhotes já estão plenamente desenvolvidos, mas ficam com os pais por uns três anos. Na natureza, as araras vivem de 30 a 40 anos. Mas em cativeiro algumas vivem mais de 60 anos. Existem cerca de 18 espécies de araras.

Arara-vermelha

         Arara-vermelha. Tamanho: até 95 centímetros               

Araracanga

Araracanga. Tamanho: 85 centímetros



Araraúna ou arara-azul-grande. Tamanho: até 1 metro. O maior de todos os papagaios; pode pesar mais de 1,3 quilo












A siba e sua habilidade de mudar de cor



  A SIBA consegue mudar de cor e se camuflar, ficando quase invisível aos olhos humanos. De acordo com certo relatório, as sibas “são conhecidas por ter uma variedade de padrões de pele que podem mudar entre si quase que instantaneamente”.

  Para mudar de cor, a siba usa o cromatóforo, um tipo especial de célula encontrado sob sua pele. Os cromatóforos contêm bolsas cheias de pigmentos coloridos e são rodeados por músculos bem pequenos. Quando a siba precisa se camuflar, seu cérebro envia um sinal para contrair os músculos em volta das bolsas. Então as bolsas e os pigmentos dentro delas se expandem, e a siba muda rapidamente de cor e de padrão de pele. A siba pode usar essa habilidade não apenas para se camuflar, mas também para impressionar possíveis parceiros e se comunicar.

  Engenheiros da Universidade de Bristol, Inglaterra, desenvolveram uma pele artificial de siba. Eles colocaram discos de borracha preta entre pequenos dispositivos que funcionam como os músculos da siba. Quando os pesquisadores aplicaram eletricidade à pele, os dispositivos se achataram e expandiram os discos pretos, escurecendo e mudando a cor da pele artificial.

  Segundo o engenheiro Jonathan Rossiter, as pesquisas sobre os músculos da siba — “as estruturas macias que a natureza faz tão bem” — poderiam levar à fabricação de roupas que mudariam de cor numa fração de segundo. Rossiter disse que as pessoas poderiam usar roupas inspiradas na siba para se camuflar, ou simplesmente por uma questão de moda.